Antigamente se dizia que o progresso vinha a galope. Não mais.
Hoje, as novas tecnologias chegam a nós pelo ar, se não via avião, pelo menos
em ritmo supersónico. E, na agricultura brasileira, o desenvolvimento parece
querer alcançar cada vez mais novos e amplos horizontes, nesse sentido. As
ferramentas da terra ganharam asas e, agora, é cada vez mais comum o uso de
satélites, aeronaves e - mais recentemente - o de Veículos Aéreos Não
Tripulados (Vants), também conhecidos como drones. Segundo o pesquisador da
unida de instrumental da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
Lúcio André de Castro Jorge, o uso dos drones tem crescido em todo o mundo e se
encontra diretamente relacionado à agricultura de precisão. "Sua aplicação
na área agrícola e em missões de reconhecimento vem sendo favorecida e
facilitada pelo atual estágio de desenvolvimento tecnológico, principalmente
pela redução do custo e do tamanho dos equipamentos e pela necessidade de
otimização da produção", explica. A utilização desses modelos de aeronaves
comandadas diretamente por um computador poderia parecer há até pouco tempo
coisa de filme de espionagem.
De fato, o uso dessas tecnologias, assim como grande parte do
que tem sido inventado pelo homem, tem sua inspiração no aparato de guerra. Os
Vants foram criados com a intuito de servir à questões estratégicas militares,
mas, assim como outros sistemas criados para esse fim, foi dia a dia que esses
equipamentos ganharam soluções que estão revolucionando o modo como são
conduzidas as relações de análise e investigação no campo. Hoje, mais de 40
países têm trabalhado no desenvolvimento dessa tecnologia para diferentes
mercados, sendo a liderança dos Estados Unidos, especialmente em ambientes
bélicos, juntamente com Israel. Aparecem ainda entre as nações que fazem uso
dos Vants, Japão, Coreia do Sul, Austrália, França, Inglaterra, Itália,
Alemanha e África do Sul. O Japão, aliás, destaca-se bem no cenário do uso
desse equipamento na agricultura - em 2004 já eram mais de 2 mil Vants
aplicados em pulverização e outras utilizações na agricultura.
No Brasil, segundo explica o pesquisador da Embrapa
Instrumental, os primeiros relatos de Vants foram registrados na década de
1980, com propósitos militares que não obtiveram grande êxito, em um primeiro
momento. Só a partir do ano 2000, no entanto, é que o uso desses equipamentos
na aviação civil começou a tomar forma nos ares brasileiros, com a introdução
do Projeto Arara (Aeronave de Reconhecimento Autónoma e Remotamente Assistida),
desenvolvido em parceria pela Universidade de São Paulo (USP) e a Embrapa, com
foco na agricultura de precisão. “O objetivo principal desse projeto era a
substituição de aeronaves convencionais utilizadas na obtenção de fotografias
aéreas, para monitoramento de áreas agrícolas e áreas sujeitas a problemas
ambientais, por Vants de pequeno porte que realizam missões pré-estabelecidas
pelos usuários", endossa Lúcio André de Castro Jorge. A partir daí o
mercado dessas aeronaves começou a desenvolver novas tecnologias, incluindo as
nacionais, que se tornaram empresas atendendo o mercado com diferentes tipos de
Vants. Hoje, mais de 2 mil sistemas já foram montados e se encontram em
operação no Brasil.
Aplicabilidade
Apesar de ganhar mais volume recentemente, os Vants ainda têm
uma presença tímida nas fazendas brasileiras. De acordo com o analista em
Agricultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul
(Famasul), Leonardo Carlotto, há certo receio dos produtores quando se começa a
utilizar uma tecnologia nova. “Existe o interesse do agricultor em melhorar
suas culturas, mas ele precisa ver a aplicabilidade, o custo disso: argumenta.
Carlotto explica que em Mato Grosso do Sul existe uma iniciativa que tem
buscado Introduzir o uso dos Vants junto aos produtores. Em parceria com
universidades e o poder público, a Associação dos Produtores de Soja de Mato
Grosso do Sul (Aprosoja/MS) começou a desenvolver, no mês de novembro, a
análise da viabilidade uso de drones nas lavouras de soja no Estado. Segundo o
analista, o objetivo é verificar se a introdução da tecnologia pode de fato
levar dinamismo e acelerar o processo de vistoria nas propriedades. "A
ideia é primeiro mandar o Vant e, a partir dessa análise prévia, enviar o
técnico ao local, já para o ponto especifico onde foi Identificado algum
problema", salienta.
O analista informa que a pesquisa busca comprovar que os ganhos
podem sim reduzir custos na produção e melhorar a qualidade da lavoura.
"Estamos trabalhando em uma área próxima a Campo Grande (MS), com um
talhão de 130 hectares. “A ideia aqui é, se confirmada a viabilidade, expandir
o uso desse equipamento para toda a cultura e os produtores já estão curiosos
sobre as possibilidades", avalia. Iniciativa é semelhante à aplicada pelo
Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento, da Universidade
Federal de Goiás (La-pig-UFG) em culturas diversas por todo o País. De acordo
com o professor Manuel Eduardo Ferreira, o laboratório da universidade trabalha
em parceria com empresas, ONGs e instituições públicas desenvolvendo pesquisas
que podem referendar o uso dos Vants no monitoramento de áreas, trazendo novos
conhecimentos especialmente em demandas da agricultura, conservação ambiental,
desastres naturais, planejamento do uso do solo e outras fontes naturais, além
do monitoramento da biodiversidade. "Multas vezes não são demandas do
laboratório, mas de colaboração com entidades diversas que são trazidas ao
Lapig para serem utilizadas nas pesquisas de mestrado, considera.
De acordo com o professor, que é geógrafo e doutor em Ciências
Ambientais, com o auxilio dos drones o laboratório da UFG desenvolveu uma
pesquisa encomendada pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da
Presidência da República para acompanhar a qualidade das pastagens por todo o
País. "O projeto apresentado dia 11 de dezembro propõe uma radiografia dos
pastos com que utilizamos os Vants para catalogar com maior precisão e
detalhamento - junto com outras técnicas - estimativas de produtividade,
resistência da vegetação, entre outros fatores”, explicita. A partir dessa
análise serão localizadas e qualificadas as áreas de pasto em todo o território
nacional, buscando assim apoiar a destinação de políticas, inclusive de crédito,
ao setor agropecuária.
Outra questão considerável no uso de drones ou Vants no campo
diz respeito ao monitoramento de áreas de desmatamento ou de erosão junto a
ecossistemas protegidos. O professor Ferreira, do Lapig - UFG, conta que a
utilização dessa tecnologia é uma importante aliada Junto ao meio ambiente.
"No último mês de Julho, por exemplo, nós do Lapig desenvolvemos um estudo
encomendado pelo Serviço Florestal Brasileiro para monitorar algumas áreas de
Florestas Nacionais, as chamadas Flonas, no qual pudemos ver se as empresas
atendiam quesitos de exploração, se havia a presença de madeireiros ilegais ou
áreas de exploração que poderiam ser abertas", argumenta.
Por: Assessoria | Fonte: Revista Safra | Fotos: infouas